Transformações Urbanas: A Nova Vila Leopoldina

Em meio a galpões abandonados, alguns com placas de “aluga-se”, um edifício de cinco andares se destaca. Com linhas horizontais arrojadas, passarelas e espaços vazios, é embelezado por canteiros e jardins de plantas nativas. O espaço é um exemplo da modernização da Vila Leopoldina, situada na zona oeste de São Paulo, às margens do rio Pinheiros.

Propriedade da Brookfield Properties, o prédio foi desenvolvido sob demanda, conhecido como “build to suit”, para abrigar as mais de 20 empresas de comunicação da gigante publicitária WPP no Brasil.

A apenas uma quadra, um galpão passou por uma reformulação significativa, embora não tenha se preocupado muito com a estética externa. O impressionante está em seu interior: 14 mil m² que reúnem estúdios, aquários e áreas dedicadas à gravação de podcasts e criação de conteúdo digital. Esse espaço compõe a Community Creators Academy, uma universidade oficiosa voltada para criadores de conteúdo digital, embora seus cursos não sejam reconhecidos pelo MEC.

Essa iniciativa resulta da parceria entre o grupo educacional Ânima e a agência de marketing digital baiana California. No mesmo bairro, destaca-se o edifício da escola bilíngue Beacon, que também contribui para a modernização da região.

As transformações na Vila Leopoldina lembram lugares icônicos, como Puerto Madero ou um novo Miami Design District em São Paulo. Entretanto, essa promessa de transformação não é recente. A região já viu outras empresas criativas, como a New Content, que foi comprada pela consultoria Accenture, e o estúdio do fotógrafo Bob Wolfenson, que enfrentou a grande inundação de 2009.

Além disso, espaços como o Estúdio Leopoldina, dedicado a produções fotográficas, e a produtora de cinema Quanta permanecem ativos na região. Para Stefano Zunino, country manager da WPP no Brasil, a Vila Leopoldina se destaca por sua “próspera cena de startups” e crescente reputação como um polo criativo. Ele ressalta a importância de unir as diversas marcas da empresa para fomentar a inovação e colaboração.

A WPP ocupará cerca de dois terços do novo edifício, enquanto Fábio Duarte, CEO da Community Creators Academy, destaca o potencial da Vila Leopoldina para a inovação e experiências urbanas. “Escolhemos a região devido ao momento transformador que ela vive, precisamos de um espaço amplo com logística facilitada para criar um ecossistema criativo”, afirma.

Daniel Araujo, fundador da Araujo Imóveis Comerciais e Corporativos, vê a Vila Leopoldina em transformação, mas não tão acelerada. Ele considera o bairro uma opção mais em conta comparado à Faria Lima, onde o preço do metro quadrado é o dobro. Ele menciona que há uma dinâmica no mercado imobiliário que leva investidores a seguir os passos das construtoras, aumentando a atratividade da área.

Contudo, a região enfrenta um desafio: a vacância de 20% nos imóveis. Para a arquiteta Moema Wertheimer, do escritório MW Arquitetura, a Vila Leopoldina tem uma “vocação natural para o desenvolvimento”, já que outras áreas próximas estão completamente adensadas.

Hilton Rejman, presidente executivo da Brookfield Properties, utiliza uma analogia poética para descrever o impacto que o novo edifício pode causar no bairro: “É como uma agulha de acupuntura, um ponto que vai irradiar mudanças”. O projeto considerou as possibilidades de alagamento, com o edifício elevado em relação à cota da rua e sem subsolo.

Uma variável que pode impactar o futuro do bairro é a possível saída da Ceagesp, um centro de abastecimento que atrai cerca de 50 mil visitantes diariamente. Essa decisão envolve a municipalidade, o estado e a União. Enquanto isso, uma área vizinha de 300 mil m² aguarda a ampliação do potencial construtivo por meio do PIU (Plano de Intervenção Urbana). Parte dessa área pertence à Votorantim, que deve contribuir para a requalificação de favelas próximas.

Enquanto o PIU não avança, alguns espaços já começam a indicar um futuro promissor. Um dos galpões renovados deu origem à Arca, um espaço de eventos, enquanto outro se tornou o State, um hub de startups que aproveita a moderna infraestrutura para reuniões e como sede administrativa. O fundador do State, Jorge Pacheco, tinha planos de atrair laboratórios de tecnologia para o espaço, mas atualmente abriga várias equipes do Nubank.