A recente investigação a respeito da morte de Lidiane Aline Lorenço, de 33 anos, e sua filha de 15 anos, no Rio de Janeiro, revelou detalhes preocupantes. A perícia identificou que os gases do aquecedor estavam direcionados para o interior do apartamento, o que provocou o acúmulo de monóxido de carbono. A obra realizada no local criou uma espécie de “câmara de gás”, resultando na tragédia, conforme especialistas consultados.

De acordo com Jorge Olmar, engenheiro e presidente da Associação Brasileira de Organismos de Inspeção Acreditados de Sistemas de Gases Combustíveis e Eficiência Energética (Abraipe), o duto de exaustão do aquecedor não estava instalado corretamente, terminando na sala em vez de ser direcionado para a fachada do imóvel. Além disso, o apartamento não havia passado pela vistoria obrigatória das instalações de gás.

“Praticamente criou uma câmara de gás. O monóxido de carbono é extremamente letal; a absorção pelo organismo é rápida. Em 15 minutos, a pessoa pode perder a consciência e, em pouco tempo, morrer”, explicou Olmar.

Segundo informações da Polícia Civil, o laudo de necropsia confirmou que a causa das mortes foi intoxicação por monóxido de carbono (CO). As duas vítimas foram encontradas sem vida no dia 10 de outubro.

Olmar ressaltou que o acúmulo de gás acontece de forma silenciosa, muitas vezes devido a problemas de ventilação ou falhas nos equipamentos. Ele destacou a importância de inspeções periódicas, especialmente em edifícios que abrigam múltiplas famílias.

O consultor e engenheiro Luis Felipe Boueri reforçou a necessidade de manutenção dos equipamentos a cada dois anos, sugerindo que, idealmente, essa revisão ocorra anualmente, com inspeções periódicas a cada cinco anos.

O apartamento localizado na Barra da Tijuca, Zona Sudoeste do Rio, havia passado por reformas que alteraram o projeto original, prejudicando a ventilação e a exaustão dos gases. O laudo pericial apontou que a varanda foi incorporada à sala sem a adequação do duto de exaustão. Como resultado, a saída de gases do aquecedor ficou voltada para o interior do imóvel, o que favoreceu o acúmulo de CO em diversos cômodos.

É importante destacar que o apartamento contava originalmente com um aquecedor elétrico, que foi substituído por um modelo a gás. Tanto o proprietário quanto a administração do condomínio não foram localizados para prestar esclarecimentos sobre a situação.

A empresa Naturgy, responsável pelo fornecimento de gás natural na região, lamentou a ocorrência e enfatizou que a responsabilidade sobre a manutenção dos aparelhos e das instalações internas é do consumidor. De acordo com a empresa, as ramificações internas devem estar em perfeito estado, conforme determinadas pela legislação estadual.

Por fim, a empresa informou que atualmente existem 43 companhias habilitadas pelo Inmetro para realizar as inspeções necessárias, que devem ser contratadas diretamente pelos consumidores a cada cinco anos.