Palacete Imperial: A história esquecida de Niterói

No coração de Niterói, quase oculto entre uma agência bancária, um restaurante popular e o movimento constante da Rua Marechal Deodoro, encontramos um dos prédios mais antigos e significativos da história fluminense: o Palacete Imperial, também conhecido como Palacete da Praia Grande. Este imóvel, que já hospedou Dom Pedro I e foi sede de instituições centrais da administração imperial, atualmente se encontra em estado de abandono, apesar de ter sido tombado há mais de 30 anos pelo INEPAC e pela Prefeitura.

“A maioria dos moradores nem sabe que Niterói já foi capital da Província do Rio de Janeiro, muito menos que esse prédio foi o primeiro incorporado ao patrimônio público provincial, lá em 1842”, afirma o historiador e pesquisador Renan Hart. “O Palacete da Praia Grande é uma construção de valor histórico inestimável, mas hoje sofre com o abandono, o esquecimento e o desrespeito à memória brasileira”, complementa ele, que lidera uma mobilização para resgatar o espaço.

O historiador entrou no prédio nesta semana e registrou o estado do edifício histórico — Foto: Renan Hart.

Uma história escondida sob camadas de tinta

O edifício foi adquirido por Dom Pedro I em 1824, por 6.000 réis, e utilizado por ele e pela Marquesa de Santos em festividades em Niterói — que na época fazia parte da Província do Rio. Nomeado inicialmente como Palacete da Praia Grande, passou a integrar, após o falecimento do Imperador, o espólio da Casa Imperial. Em 1842, o prédio foi leiloado e adquirido por Honório Carneiro Leão (futuro Marquês de Paraná), tornando-se o primeiro bem público oficial da província.

Com o passar dos anos, o Palacete já abrigou a Tesouraria Geral, a Guarda Policial, a Secretaria Estadual de Fazenda, e foi até sede de uma unidade do antigo Banerj. O edifício foi reformado no início do século XX após um incêndio, adquirindo seu estilo palaciano com três corpos interligados e uma fachada eclética.

Nos dias atuais, o que resta desse patrimônio é um prédio parcialmente descaracterizado, com áreas subutilizadas e outras oculta por camadas de tinta branca, sem qualquer sinalização que evidencie sua importância. A última iniciativa digna foi a criação do Museu Histórico de Niterói, que permanece fechado sem previsão de reabertura.

Palacete em 1983 — Foto: Arquivo.

Mobilização por revitalização

Com a chegada dos Jogos Pan-Americanos, em 2031, quando Niterói será uma das sedes, um grupo de moradores, historiadores e ativistas culturais lançou uma petição pública pedindo a revitalização completa do Palacete e sua reocupação como sede do Museu Histórico da cidade. A campanha já alcançou o Senado, via e-Cidadania; à Câmara dos Deputados, através do portal e-Democracia; e à Alerj, onde a deputada estadual Índia Armelau se comprometeu a apresentar a proposta assim que o recesso da assembleia terminar.

“O prédio tem um valor simbólico e turístico imenso. Segundo a UNESCO, cada real investido em patrimônio cultural pode gerar até R$ 4 de retorno em turismo, economia e impacto social. Mais do que isso: é sobre identidade, sobre saber de onde a gente veio”, argumenta Renan Hart.

O Palacete está localizado entre a Visconde do Rio Branco e a Visconde de Uruguai, na Rua Marechal Deodoro — que anteriormente era chamada de “Rua do Imperador”, até a mudança de nome como parte do apagamento da memória imperial após a Proclamação da República.

A petição está disponível desde a semana passada e já conta com mais de 100 assinaturas.