Dar Nome aos Bois: A Jornada de Mouhamed Harfouch em “Meu Remédio”
A expressão “dar nome aos bois” carrega um duplo sentido que reflete tanto a dificuldade de nomear algo quanto a necessidade de sinceridade em nossas vidas. A escolha de um nome, especialmente no contexto de um filho, é uma responsabilidade que pais carregam ao longo de suas vidas. Em um cenário onde os pais vêm de culturas, países e religiões diferentes, essa tarefa pode se transformar em um verdadeiro dilema. É nesse contexto de crise de identidade e busca por pertencimento que surge a obra “Meu Remédio”, protagonizada pelo ator Mouhamed Harfouch.
(Gustavo de Freitas Lara/Divulgação)
O título “Meu Remédio” é particularmente significativo: Mouhamed, que cresceu sendo chamado desse jeito pelo porteiro do seu prédio, usa a obra para tratar das mágoas que seu nome complicado gerou ao longo de sua vida. Este nome, difícil de pronunciar, tornou-se um símbolo das alegrias e tristezas que ele enfrentou, revelando a dificuldade de carregar um legado cultural em um mundo que muitas vezes não está preparado para entendê-lo.
(Gustavo de Freitas Lara/Divulgação)
A obra, escrita por Mouhamed, é um exemplo notável do que chamamos de ‘escrita de si’, uma forma de dramaturgia que busca explorar a própria vivência do autor. A simplicidade aparente de estar sozinho no palco contrasta com a profundidade da narrativa, onde ele não apenas contracena consigo mesmo, mas também com suas origens, suas relações familiares e as lembranças que moldaram sua identidade. Em uma busca profunda de autodescoberta, Mouhamed revela como, apesar das dificuldades relacionadas ao seu nome, decidiu se lançar na carreira de ator e se tornou um excelente profissional.
A direção de João Fonseca é fundamental para captar o dilema do ator e expressar essa luta interna de maneira eficaz. O texto ágil e leve, aliado aos gestos coerentes, transporta o público para o universo íntimo de Mouhamed. Assim, a plateia se vê refletida na narrativa, uma vez que é difícil encontrar alguém que não tenha uma relação ambígua com seu próprio nome. A história contida em cada nome é uma herança que todos carregamos e que, através da peça, é transformada em legado.
(Gustavo de Freitas Lara/Divulgação)
Informações de Serviço
Até 16 de fevereiro, quintas a sábados, às 20h; domingos, às 19h
Teatro Ipanema Rubens Corrêa (Rua Prudente de Morais, 824)
Ingressos aqui.
(Arquivo/Arquivo pessoal)
Num mundo onde a identidade é frequentemente questionada e desafiada, a experiência de Mouhamed Harfouch em “Meu Remédio” é um convite para refletir sobre como cada um de nós lida com a herança de nossos nomes. “O que não tem remédio, remediado está” é um lembrete poderoso de que, apesar das dificuldades, sempre há um caminho para transformar nossas experiências em histórias que possam ressoar com os outros.