Reflexão sobre ancestralidade em exposição individual de Auá Mendes em São Paulo.

A artista manauense Auá Mendes, de 25 anos, apresenta sua primeira exposição individual intitulada “Sesá Ixé: Olhar Eu” no Espaço Cultural Periferia, localizado no Centro da Ação Educativa, na Vila Buarque, em São Paulo. A mostra conta com nove pinturas que trazem personagens de cabelos azulados, em uma reflexão sobre seus pensamentos, trajetória e ancestralidade, oriunda da etnia Mura.

Com a curadoria de Vera Nunes, Auá Mendes vem conquistando espaço no cenário artístico brasileiro, tendo começado a se destacar em São Paulo ao realizar trabalhos de grafite, como a empena com o título “Ãgawara-itá mukatúru: As encantadas protegem” no bairro do Bixiga. Posteriormente, participou da Bienal das Amazonas, em Belém, com a obra “Ixé Maku: Eu Ancestral” no Ver-o-Peso, e também coloriu o muro do Itaú Cultural na Avenida Paulista com a obra “Visão”, que faz referência às histórias contadas por seus avós sobre pirarucus que engoliam pessoas más e colonizadores.

Auá Mendes, em entrevista para Casa Vogue, revelou que seu interesse pela arte despertou durante a faculdade de Design em Manaus, através das aulas do renomado professor Turenko Beça. Seu estilo artístico único, marcado pelo intenso uso da cor azul, foi desenvolvido ao longo do tempo, inspirado em sua espiritualidade e na busca por um universo que lhe proporcionasse vida. Os personagens que aparecem em suas obras representam o passado, o presente e o futuro, refletindo suas memórias e sua conexão com a ancestralidade.

Apesar de encontrar em São Paulo uma variedade de oportunidades, Auá também relata as dificuldades enfrentadas na cidade, como o distanciamento das relações calorosas e receptivas de sua terra natal, o racismo e a segregação no meio artístico. Como mulher trans e indígena, a artista destaca a importância de nomear e compreender as violências estruturais presentes na sociedade, que limitam sua liberdade e oportunidades.

Auá Mendes se destaca como uma das poucas artistas trans e indígenas ativas no cenário artístico brasileiro, sendo pioneira em muitos aspectos e enfrentando desafios decorrentes da colonialidade e da branquitude. Sua arte, marcada pela força da espiritualidade e da ancestralidade, convida o espectador a refletir sobre identidade, território e vivências pessoais.

Dessa forma, a exposição individual de Auá Mendes em São Paulo representa não apenas um marco em sua carreira artística, mas também uma oportunidade para ampliar o diálogo sobre diversidade, representatividade e superação de barreiras sociais. Auá Mendes se destaca como uma artista talentosa, comprometida com suas raízes e determinada a criar um universo de possibilidades e vida através de sua arte.

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