Preservando o Patrimônio Arquitetônico de Montreal: O Legado de Phyllis Lambert na Transformação Comunitária

0

O Legado de Phyllis Lambert na Preservação do Patrimônio Arquitetônico de Montreal

Montreal tem a sorte de contar com a grande arquiteta e defensora da conservação do patrimônio cultural, Phyllis Lambert. Sua trajetória é marcada por uma profunda dedicação à preservação da identidade arquitetônica da cidade e ao fortalecimento das vozes comunitárias no planejamento urbano.

Nascida na cidade, Phyllis Lambert despontou como uma figura central na preservação do patrimônio arquitetônico canadense, especialmente em Montreal. Sua influência vai muito além de edifícios individuais; seu impacto é sentido na comunidade como um todo. Lambert foi cofundadora do Centro Canadense de Arquitetura (CCA), que redefine como as cidades visionam seu patrimônio, incorporando as vozes da comunidade no processo de planejamento urbano.

Essa jornada começou na década de 1950, quando Lambert se destacou na construção do icônico edifício Seagram, em Nova Iorque. Ela persuadiu seu pai a contratar o renomado arquiteto Ludwig Mies van der Rohe para projetar o edifício e, em seguida, assumiu o cargo de diretora de planejamento do projeto, iniciando assim sua carreira influente no mundo da arquitetura.

Vista aérea do Centro Canadense de Arquitetura (CCA) em Montreal.

De volta a Montreal em 1973, Lambert encontrou uma cidade em plena transformação. Enquanto a cidade celebrava os desenvolvimentos trazidos pela Expo 67 e se preparava para os Jogos Olímpicos de 1976, a modernização acelera, colocando em risco construções históricas que não eram consideradas como patrimônio.

A demolição da Mansão Van Horne foi um ponto de virada. Este belo edifício de pedra cinza, relacionado ao importante construtor férreo William Cornelius Van Horne, foi demolido em setembro de 1973, apesar de protestos públicos significativos. A queda da Mansão gerou indignação e mobilização, resultando na formação do movimento "Salvem Montreal", um marco inicial na luta pela preservação do patrimônio arquitetônico da cidade.

Mansão Van Horne em Montreal, por volta de 1890.

Em 1975, Lambert cofundou a Heritage Montreal, uma organização que lutaria ativamente pela proteção do patrimônio da cidade. Este movimento começou a desvincular a ideia de patrimônio arquitetônico das noções restritas de monumentos históricos, expandindo a discussão para incluir a herança cultural e urbana de Montreal.

A visão de Lambert pela necessidade de conservar e reimaginar o patrimônio arquitetônico se concretizou em projetos como a transformação da Casa Shaughnessy em um centro de referência para a arquitetura no Canadá. O CCA rapidamente se tornou uma instituição reconhecida internacionalmente que promove a pesquisa e a educação em arquitetura e urbanismo.

Shaughnessy House, agora parte do campus do CCA.

Além de suas contribuições institucionais, seu trabalho com a comunidade de Milton Parc ilustra seu compromisso com a defesa do patrimônio e a colaboração prática entre profissionais e cidadãos. Quando planos de demolição ameaçaram a área, a mobilização da comunidade liderada por Lambert conseguiu preservar edifícios históricos, resultando em um novo entendimento sobre o valor do patrimônio arquitetônico.

Desenvolvimento de La Cité em 1972, com casas históricas de Milton Parc em primeiro plano.

A luta de Lambert e a demolição da Mansão Van Horne catalisaram significativas mudanças na legislação de preservação em Montreal, onde se introduziram regulamentos para proteger os edifícios históricos. Seu trabalho democratizou o acesso ao conhecimento arquitetônico, capacitando cidadãos a participarem ativamente da determinação do futuro de sua cidade.

A abordagem de Lambert — integrar os cidadãos na construção de suas cidades — não só assegurou a preservação do legado arquitetônico de Montreal, mas também inspirou gerações de arquitetos, urbanistas e ativistas. Hoje, seu legado continua a ressoar, testemunhando o poder da arquitetura e da comunidade na formação das cidades contemporâneas.

A biblioteca do CCA em Montreal.

O trabalho de Phyllis Lambert é um convite à reflexão sobre o papel da arquitetura na identidade de uma cidade e como ela pode ser um motor de mudança e envolvimento comunitário na construção do futuro.

Leia a matéria na integra em: Archdaily

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *