Projeto Inovador: Casa para Mulheres em Gradačac, Bósnia e Herzegovina
Nos arredores de Gradačac, uma cidade ao norte da Bósnia e Herzegovina, ergue-se a Casa para Cinco Mulheres, um projeto vibrante concebido pelo estúdio de arquitetura TEN. Essa residência desafia modelos habitacionais convencionais, apresentando uma arquitetura pautada no cuidado, na resiliência e na autoria coletiva.
Idealizado em parceria com a ativista local Hazima Smajlović, a ONG Naš Izvor, Engineers Without Borders e a prefeitura de Gradačac, o projeto oferece um lar permanente para cinco mulheres solteiras que sobreviveram à guerra, ao deslocamento e ao descaso sistêmico. Situada entre a privacidade e a solidariedade, a casa propõe um novo paradigma de coabitação, com cinco unidades habitacionais individuais agrupadas em torno de espaços comuns para encontros, trabalho e cultivo de alimentos.
Fachada Criativa Desenhada por Shirana Shahbazi
Em vez de impor uma visão externa, o projeto desenvolvido pelo coletivo TEN, baseado em Zurique, surgiu após anos de diálogo no local e troca intergeracional. Cada decisão de design, desde as texturas dos pisos até as espécies de árvores plantadas, foi feita em estreita colaboração com profissionais locais, voluntários e artesãos, enraizando a casa tanto no contexto físico quanto social.
O arquiteto paisagista Daniel Ganz trabalhou em paralelo com TEN para integrar o local à topografia, plantando árvores da região e criando um jardim voltado para a produção de alimentos e para ser um espaço de cuidado, ritual e atividades compartilhadas.
A fachada da Casa para Cinco Mulheres, uma superfície vibrante, foi orquestrada pela fotógrafa iraniana Shirana Shahbazi, que utilizou composições de cores e contrastes de materiais. As intervenções de Shahbazi transformam a construção em uma tapeçaria viva, mudando com a luz, as estações e os ritmos diários de suas habitantes. Essa dinâmica visual sinaliza a presença de vida, criatividade e propósito compartilhado em uma paisagem marcada por beleza e trauma histórico.
Cooperação Local e Design Solidário
Na base dessa coroa expressiva, o nível térreo se destaca pela clareza radical. Uma faixa contínua de portas de vidro verticais e janelas fixas percorre toda a elevação, emoldurada por volumes de concreto bruto em ambas as extremidades. Essa transparência ancla o edifício ao solo e abre o interior comum para o mundo exterior.
O processo de construção da casa, tanto quanto a estrutura final, reflete a ética do TEN. A equipe vê o design como uma prática relacional. Colaborações com metalúrgicos, pintores de automóveis e reparadores de tapetes reuniram conhecimentos e recursos através de divisões sociais e culturais. Dessa forma, o projeto atua como um micro-instituto onde design, arte e trabalho social convergem para imaginar novas infraestruturas de cuidado. A equipe enxerga a casa como um protótipo do que o design pode se tornar ao abandonar o espetáculo em prol da solidariedade.
A Casa para Cinco Mulheres constrói uma base para dignidade, autonomia e convivência interconectada. Em uma região onde as consequências da guerra ainda moldam a vida cotidiana, o projeto resgata o ambiente construído como um espaço de cura.
Essa abordagem não apenas redefine o conceito de habitação, mas também reafirma a importância da colaboração e do cuidado em projetos arquitetônicos, destacando a capacidade de transformação do espaço e da convivência em comunidades afetadas pela adversidade.
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