A Pressão sobre o Mercado Imobiliário em Portugal: O Que Esperar para 2024?

O cenário imobiliário em Portugal está longe de ser otimista. Diversos fatores se entrelaçam para impulsionar a alta dos preços das casas, e as perspectivas para os próximos meses indicam que essa tendência deve continuar. Com a taxa de juros em queda, um aumento significativo na imigração, a escassez de novas construções e políticas governamentais voltadas para a habitação, as variáveis que afetam esse setor são complexas e desafiadoras.

A Escalada nos Preços das Casas

Recentemente, a Confidencial Imobiliário reportou um aumento de 13,6% nos preços das casas em fevereiro, o maior desde setembro de 2023. Ricardo Guimarães, diretor da entidade, expressou sua preocupação, afirmando que o ritmo de valorização não deve desacelerar, podendo até piorar em março. Com o preço médio por metro quadrado alcançando 2.634 euros em Portugal continental, as discrepâncias nos aumentos regionais se tornam evidentes: áreas mais acessíveis estão observando as maiores elevações nos preços, como evidenciado pelos 17,9% de valorização em Santarém.

Fatores que Influenciam o Mercado Imobiliário

Os especialistas concordam que cinco fatores principais estão em jogo nessa dinâmica.

1. Juros em Queda

O primeiro fator a ser considerado são as taxas de juros. Após um período de aumento que esfriou o mercado, a recente queda está incentivando novas transações. Muitas compras que foram adiadas estão novamente em pauta. Vera Gouveia Barros, economista especializada no setor habitacional, acredita que as taxas estão se estabilizando entre 2,5% e 3%. Essa normalização deve estimular a compra de imóveis por aqueles que hesitaram nas decisões durante as incertezas econômicas.

2. Crescente Imigração

Outro fator relevante é a imigração. Com mais de meio milhão de imigrantes no mercado de trabalho em Portugal, a demanda por habitação cresce, mas a oferta não tem acompanhado essa evolução. O perfil da comunidade brasileira, que se assemelha ao das famílias portuguesas, tem contribuído significativamente para o aumento dos preços em cidades secundárias, como Braga.

3. Escassez na Construção

A construção de novas casas tem se mostrado insuficiente, com apenas cerca de 30 mil novas licenças por ano. Além disso, não é garantido que todos os projetos licenciados sejam de fato construídos ou que estejam prontos em um curto período. A falta de mão-de-obra e a baixa atratividade dos salários em Portugal dificultam a resolução do problema. Paralelamente, especialistas sugerem que uma redução do IVA sobre a construção poderia ajudar, mas medidas concretas ainda estão pendentes.

4. Apoio aos Jovens Compradores

O governo implementou garantias públicas que permitem financiamento a 100% para jovens até 35 anos, além da isenção de imposto de selo. Embora essa medida possa aumentar a procura, alguns especialistas questionam se ela realmente impacta o mercado ou apenas representa uma dinâmica natural. Sem dúvida, esses incentivos podem levar a um aumento nos preços, uma vez que os jovens provavelmente oferecerão valores mais altos em suas propostas.

5. Incertezas e Investimentos Estrangeiros

O clima de incerteza política e econômica, tanto a nível nacional quanto internacional, pode provocar uma fuga de capitais para o mercado imobiliário português. Nesse contexto, o mercado se torna atraente para investidores que veem no setor uma oportunidade de refúgio. No entanto, esses investimentos muitas vezes resultam em propriedades ociosas em vez de disponíveis para a população que realmente precisa de habitação.

O Futuro do Mercado Imobiliário

Com todos esses fatores em consideração, fica claro que o cenário imobiliário em Portugal é complicado e multifacetado. O aumento contínuo nos preços das casas, aliado à falta de oferta e ao crescimento demográfico, sugere que o mercado não deve se estabilizar tão cedo. A pressão sobre os preços só tende a aumentar, especialmente se o governo e as instituições financeiras não implementarem intervenções significativas para equilibrar a oferta e a demanda.

As autoridades poderão ter que enfrentar um dilema em relação à proteção do mercado e à necessidade de fornecer habitação acessível para todos. Enquanto isso, resta aos cidadãos e investidores acompanhar as mudanças e preparar-se para um futuro incerto.

Leia a matéria na íntegra em: cnnportugal.iol.pt