Design Contemporâneo: A Visita da Designboom ao Studio RAP em Rotterdam
Dentro do RDM Innovation Dock, em Rotterdam, Holanda, o Studio RAP está reformulando as fronteiras da arquitetura por meio da fusão entre design computacional e fabricação digital. O estúdio, capaz de despertar a curiosidade pela inovação, é comandado pelos fundadores Lucas ter Hall e Wessel van Beerendonk, que lideram uma equipe de arquitetos dedicada a explorar novas possibilidades de design.
O ambiente vibrante do Studio RAP é preenchido por robôs, protótipos e modelos intricados. A proposta deles vai além dos conceitos tradicionais, buscando a inspiração em formas naturais, ornamentação histórica e experimentação com materiais. O resultado desse processo é uma série de peças arquitetônicas que equilibram artesanato e robótica de ponta. De fachadas fluidas e orgânicas a interiores ousados e mobiliário escultural impresso em 3D, o trabalho do Studio RAP reflete uma abordagem voltada para o futuro, combinando narrativa, tecnologia e sustentabilidade.
"Em todos os projetos, queremos contar uma história com diferentes ingredientes," compartilha Lucas ter Hall. Para entender as origens do Studio RAP, sua filosofia de design e o que espera pelo futuro, a equipe da Designboom visitou o estúdio em Rotterdam e conversou com Lucas ter Hall.
Explorando o Futuro do Design Através da Arte e Robótica
O Studio RAP atua na intersecção entre progresso e tradição, integrando tecnologias avançadas, como design computacional, fabricação robótica e impressão 3D, à sua prática arquitetônica. A equipe multidisciplinar do estúdio, composta por arquitetos, programadores, especialistas em robótica e pesquisadores, adota uma abordagem prática para explorar novas maneiras de projetar e construir o ambiente construído. Um projeto que exemplifica essa abordagem é a Casa de Cerâmica, que transforma superfícies arquitetônicas em uma tela para criatividade. Ao combinar azulejos cerâmicos impressos em 3D com design algorítmico e esmaltação artesanal, o Studio RAP elaborou uma fachada que adiciona uma narrativa moderna e textural a uma rua histórica.
Outro projeto notável, o New Delft Blue, demonstra a habilidade do estúdio em reinterpretar a tradição da cerâmica através de uma lente contemporânea. Inspirando-se na famosa porcelana Delft Blue, o projeto combina impressão de argila em 3D com design computacional e esmaltação tradicional, reimaginando a ornamentação cerâmica para a arquitetura moderna. O resultado final é um tributo ao patrimônio holandês e um avanço na exploração de como a cerâmica pode redefinir a expressão arquitetônica do século XXI.
"Cada projeto tem seu próprio idioma de design que não é replicável," afirma Lucas ter Hall, enfatizando a abordagem singular do Studio RAP em criar trabalhos distintos e originais. Esses projetos vão além de meras construções; são experimentos que buscam redefinir a própria profissão arquitetônica.
Entrevista com Lucas ter Hall
Designboom (DB): Como surgiu a ideia de criar o Studio RAP? Como você descreveria sua identidade?
Lucas ter Hall (LH): Wessel e eu nos conhecemos durante os estudos. Compartilhávamos a mesma visão sobre arquitetura e a paixão por realizar formas complexas. Também tínhamos a mesma opinião sobre a lacuna entre a academia e o mundo real. Na academia, você pode conceber as formas mais malucas e interessantes através do design algorítmico, mas é difícil realizá-las. Foi por isso que fundamos o Studio RAP—para conectar essas formas computacionais com as técnicas que trazem essas formas singulares ao mundo real.
DB: O estúdio é composto por muitos profissionais—arquitetos, designers e especialistas em robótica. Como você descreveria sua equipe e como colaboram para realizar cada projeto?
LH: Ao longo dos anos, tivemos diferentes profissionais com diversas bagagens e uma paixão enorme pela criação. Todos conhecem o funcionamento do braço robótico, impressão de argila e programação. Nossa base é principalmente composta por arquitetos, mas as habilidades deles incluem robótica e programação, formando um nicho dentro da arquitetura.
DB: Onde vocês buscam inspiração para suas formas únicas?
LH: Em cada projeto, queremos contar uma história com diferentes ingredientes. A depender do cliente e do contexto, esses ingredientes fazem com que cada design seja único. Nossos designs cerâmicos sob medida são um ótimo meio de narrar uma história através da ornamentação arquitetônica. Buscamos inspiração na natureza e na história dos edifícios. Reviver a tradição da narrativa através das fachadas na arquitetura contemporânea injetaria profundidade e significado, transformando prédios de meras estruturas em marcos culturais.
DB: Como funciona o processo? Vocês começam desenhando no papel ou é tudo digital?
LH: Começamos fazendo esboços à mão para comunicar à equipe qual direção seguir, e depois usamos uma biblioteca de padrões específicos que traduzem essa inspiração em forma. Por exemplo, no projeto New Delft Blue, nos inspiramos em molduras decorativas que remetem à natureza. Começamos com esboços à mão, encontramos referências e, ao mesmo tempo, buscamos algoritmos que possam traduzir essas formas em geometria inspirada na natureza.
DB: Quando o braço robótico entra em cena?
LH: Desde cedo. Esse processo é desafiador, pois queremos que o resultado seja impressionante e único, e traduzir isso em um estágio inicial é difícil. Mostramos protótipos de azulejos aos clientes, testando a viabilidade do projeto em colaboração com o robô e experimentando a cor do esmalte.
DB: Desde que vocês estão trabalhando com digitalização e robótica, até que ponto esse processo limita a arquitetura, a estética e a função do resultado final?
LH: A forma dos azulejos cerâmicos é limitante; precisamos dividir o design em peças menores para torná-lo manejável. No entanto, isso nos permite desenvolver detalhes de forma expressiva. No projeto New Delft Blue, precisamos imprimir cada azulejo rapidamente para manter a viabilidade do projeto.
DB: Existe outro material que você gostaria de experimentar no futuro, além de azulejos cerâmicos?
LH: Gostamos de trabalhar com cerâmica, mas acreditamos que ainda há espaço para melhorar a sustentabilidade. Estamos testando ingredientes de argila mais sustentáveis. Atualmente, não temos ambições de imprimir com outro material. O trabalho com cerâmica é ótimo para ornamentação arquitetônica e, por se tratar de um material muito apreciado, não precisamos lidar com questões de manutenção que materiais como concreto poderiam trazer.
O Studio RAP continua a repensar os limites do design, buscando a harmonia entre tradição e tecnologia em suas criações inovadoras.