O Rio: Um Refúgio Atemporal em Meio à Modernidade

A Mobilidade Urbana no Rio de Janeiro: Desafios e Frustrações

Recentemente, uma pesquisa revelou que o Rio de Janeiro é a região metropolitana do Brasil com o maior tempo médio de deslocamento entre casa e trabalho. Essa constatação, infelizmente, não é uma novidade. Os desafios enfrentados diariamente pela população carioca refletem um problema estrutural enraizado na história da cidade.

A Precariedade da Mobilidade

No artigo que publiquei há dois anos, discutia o fenômeno da “imobilidade urbana” no Rio, enfatizando que a precariedade da mobilidade não é um acontecimento recente. É fruto de décadas de investimentos insuficientes, promessas políticas não cumpridas e um modelo urbano que acentua a segregação social. A falta de um transporte público eficiente aumenta as desigualdades, onde os moradores das periferias passam horas em deslocamentos diários, o que compromete não apenas a qualidade de vida, mas também as chances de ascensão social.

A Intersecção da Mobilidade e a Mobilidade Social

O cruzamento entre a crise da mobilidade e a baixa mobilidade social é claro. A dificuldade de acessar empregos e educação de qualidade prejudica desproporcionalmente quem possui menor renda, aprisionando esses indivíduos em um ciclo de pobreza. No contexto carioca, este problema é ainda mais impactado pela presença de diversas facções criminosas, que, em contínuo conflito, tornam certas rotas perigosas e fragmentam o tecido urbano. Isso não apenas dificulta os deslocamentos, mas também limita o desenvolvimento de várias regiões da cidade.

Promessas Não Cumpridas

Um aspecto marcante da administração pública no Rio de Janeiro são as promessas frustradas. A nova candidatura de Rio e Niterói para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2031 inclui promessas como a construção da Linha 3 do metrô e a despoluição da Baía de Guanabara. A população fluminense já vivenciou promessas semelhantes, feitas quase 20 anos atrás, quando a cidade se preparava para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e, posteriormente, para os Jogos Olímpicos. A expansão da malha metroviária e a despoluição da Baía, que poderiam facilitar o transporte aquaviário, todas essas promessas acabaram se mostrando ilusórias.

Desafios Fiscais e Futuros Incertos

A situação da mobilidade urbana se agrava ainda mais pela atual condição fiscal do estado, que se encontra em recuperação. Essa realidade limita significativamente a capacidade do governo em alocar recursos para obras estruturais essenciais. Assim, o Rio de Janeiro se vê dependente de investimentos federais ou parcerias privadas para transformar projetos em realidade.

Um Ciclo de Paralisia

Diante desse cenário, a pergunta que persiste é: até quando o Rio de Janeiro ficará preso em sua própria paralisia? O escritor carioca Carlos Heitor Cony certa vez afirmou: "O Rio é essa cidade em que tudo parece possível, e nada se realiza." Essa frase toca uma realidade amarga: enquanto o poder público não enfrentar os desafios da mobilidade urbana de maneira séria e comprometida, apenas uma pequena parcela da população continuará a usufruir da cidade sem se deparar com os obstáculos cotidianos de um transporte público falho e desigual.

Conclusão

É urgente que a gestão pública carioca reconheça a gravidade da situação. A excelência na mobilidade urbana é fundamental não apenas para a qualidade de vida dos cidadãos, mas também para o desenvolvimento econômico e social da cidade. Sem uma abordagem proativa e efetiva, os problemas da mobilidade só tendem a se agravar, perpetuando a exclusão social e a ineficiência. A sociedade carioca merece mais do que promessas: ela precisa de ações concretas e eficientes que possam, finalmente, romper com o ciclo de paralisia e desigualdade.

Marlon Cecilio de Souza, economista, especialista em política e sociedade pelo Iesp-Uerj e analista de risco de crédito no Bank of New York.

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