Violência e Mercado Imobiliário: O Impacto da Insegurança no ABC

Um levantamento recente realizado pelo RD aponta que a violência tem afetado significativamente o mercado imobiliário na região do ABC. Os dados oficiais de segurança pública revelam quais bairros enfrentam os maiores índices de roubos, incluindo furtos de veículos e ataques a comércios e residências. As áreas centrais, os bairros mais nobres e os periféricos estão entre as mais impactadas, gerando uma migração de moradores para locais considerados mais seguros, inclusive para o interior do estado.

Nilson Ferreira, proprietário da Guaíra Imóveis, uma das principais imobiliárias da região, afirma que a segurança pública se tornou o principal critério para quem busca comprar ou alugar um imóvel. “Os locais com altos índices de criminalidade são vistos com desconfiança, o que acaba desvalorizando as propriedades. Hoje, há pessoas que abrem mão de ter um shopping próximo em nome da segurança”, comenta.

Bairros Nobres em Foco

Em uma pesquisa realizada pela Guaíra, o bairro Jardim, em Santo André, se destacou entre os mais afetados por roubo, corroborando as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública. De acordo com Ferreira, o Jardim, conhecido por sua infraestrutura e alta valorização, atrai delinquentes, assim como o Centro, que é frequentado por muitos consumidores.

A insegurança também atinge pequenos condomínios sem portaria. “Esse cenário já afeta a decisão de muitos moradores”, alerta Ferreira, que relata alguns casos em que ações de segurança, como a instalação de uma companhia da PM, ajudaram a reverter a situação em bairros como Parque dos Pássaros.

Roberto Casari, da Casari Imóveis, outra imobiliária tradicional da região, concorda que a segurança é um fator crucial na escolha do imóvel. “Estamos vendo muitas pessoas fugindo da violência e, em várias ocasiões, deixamos de fechar negócios por conta disso”, afirma.

A Questão da Mobilidade e Segurança

O bairro Rudge Ramos, que é um dos mais procurados em São Bernardo, também se tornou mais perigoso devido ao aumento da criminalidade. Casari menciona que a insegurança foi agravada pelo fechamento de estabelecimentos comerciais nas proximidades da Metodista, criando áreas mais desertas. “As rotas de fuga para bandidos, facilitadas por avenidas e rodovias, tornam a situação ainda mais complicada”, observa.

O aumento do trânsito nas áreas centrais também contribui para a insegurança: “Com o tráfego congestionado, oportunistas têm maior chance de agir”, destaca Casari. As pessoas, ainda assim, buscam residências próximas ao trabalho e à escola dos filhos, mas, segundo ele, a segurança deve ser a prioridade.

Estatísticas Alarmantes

No primeiro semestre de 2023, Santo André registrou 871 roubos, uma média de quatro ocorrências diárias. O Centro foi o mais afetado, com 69 ocorrências, seguido pela Vila João Ramalho e Vila Luzita. São Bernardo, por sua vez, contabilizou 810 casos de roubo, sendo o Centro novamente o mais impactado.

Em São Caetano, até julho, foram reportados 78 roubos, com a maioria ocorrendo no Centro. Diadema teve 480 roubos e, para a cidade, o Centro representa um quarto dos registros. Por outro lado, em Mauá, o Jardim Zaíra, um bairro periférico, lidera as estatísticas com 59 roubos, desafiando a tendência geral.

Impactos e Tendências

O cenário de insegurança não afeta apenas a decisão de compra, mas também direciona mudanças na forma como as pessoas buscam moradia. Ferreira e Casari observaram um aumento na procura por apartamentos e condomínios-clube, que oferecem maior segurança e infraestrutura de lazer, como uma resposta ao medo da violência.

O avanço da violência nos bairros do ABC é uma realidade alarmante, e seus reflexos no mercado imobiliário revelam como a preocupação com a segurança se tornou um fator primordial na escolha de novos lares. Enquanto o Brasil enfrenta desafios de segurança, a população faz escolhas que priorizam sua proteção e bem-estar, mesmo que isso signifique abrir mão de algumas comodidades.