O Desafio Habitacional em São Vicente: Uma Crise Agravada pela Turistificação
A escassez de habitação em São Vicente, Cabo Verde, é um problema antigo, mas sua gravidade aumentou nos últimos anos, especialmente em função da crescente demanda turística. Proprietários, buscando maximizar seus lucros, estão convertendo imóveis anteriormente alugados por longos períodos em arrendamentos de curta duração, intensificando ainda mais a crise habitacional na região.
A Realidade de quem Busca Aluguel
Para muitos cidadãos cabo-verdianos, encontrar um lugar para morar em São Vicente virou uma missão quase impossível. A realidade é dura e reflete um mercado habitacional já fragilizado. É o caso de Elisângela Pereira, que desde setembro do ano passado enfrenta dificuldades para alugar um imóvel. “Procuro em qualquer zona. Já nem falo do centro da cidade, pois sei que é ainda mais complicado. Atualmente, onde busco, os proprietários só arrendam casas mobiliadas e para férias, não por tempo indeterminado”, desabafa.
As opções que surgem, when disponíveis, vêm acompanhadas de preços exorbitantes, fora do alcance do orçamento familiar. Elisângela conta que, após desistir de procurar por um apartamento de três quartos (T3), começou a se concentrar em imóveis de dois quartos (T2). “Só encontro apartamentos por 30 mil escudos, um valor que costumava ser cobrado por um T3. E ainda pedem um ou dois meses de caução, sem garantia de estabilidade”, afirma.
Marcos Teixeira, estudante de Santo Antão, compartilha uma experiência semelhante. Ele foi despejado do apartamento que dividia com colegas e agora enfrenta dificuldades em encontrar um novo espaço. “O mercado está muito difícil, especialmente para estudantes. A maioria dos proprietários prefere alugar ao dia, o que complica nossa busca”, lamenta.
O Impacto da Turistificação
O fenômeno do alojamento local tem mudado a dinâmica do setor imobiliário. Muitos imóveis que antes eram destinados a aluguéis de longo prazo agora estão disponíveis para turistas, o que reduz a oferta para moradores permanentes. “As placas de ‘arrenda-se’ desapareceram das janelas. Há cada vez menos opções para quem precisa de um lugar para viver,” observa Viviane Rocha, que conseguiu um apartamento apenas por meio de uma indicação pessoal.
Sílvia Pires, consultora imobiliária, confirma a pressão sobre o mercado: “Um apartamento que antes custava 15 mil escudos agora chega a custar 30 mil, o que torna impossível para muitas famílias.” A escassez de apartamentos não mobiliados é outra questão premente, uma vez que muitos proprietários optam por alugar imóveis já mobiliados, aumentando assim o custo.
Proprietários em Dilema
Proprietários de imóveis também expressam suas frustrações. Zeca Santos conta que a decisão de alugar por um período curto foi motivada pela necessidade de proteger seus bens. “Arrendar ao dia é financeiramente mais lucrativo e, com estadias curtas, os inquilinos não têm tempo de danificar o apartamento. Assim, optamos por alugar para turistas e emigrantes, que tendem a cuidar mais do imóvel,” explica.
A nova legislação sobre arrendamento local, o Decreto-Lei 56/2024, busca regulamentar essa prática, estabelecendo quotas para licenças de arrendamento. Contudo, a pressão do turismo continua a moldar o cenário habitacional em São Vicente, levando àquilo que o sociólogo Redy Wilson Lima denomina de “airbinização” das cidades, onde as propriedades são desviadas para o mercado turístico.
Desigualdade Habitacional
A falta de habitação não é apenas resultado da pressão do turismo, mas também reflete uma questão estrutural mais profunda. Em 2020, o déficit habitacional na ilha era de 3.208 residências. O arquiteto Nuno Flores ressalta a importância de uma política pública adequada, que considere a relação entre habitação e território.
“É fundamental construir habitação a preços acessíveis, regular o mercado e usar terrenos devolutos para evitar a urbanização desorganizada. Devemos garantir que as famílias tenham acesso a habitação condigna,” sugere Nuno.
O governo de Cabo Verde planeja investir mais de 167 milhões de contos em projetos de construção e reabilitação de habitações até o final da década. Essa é uma medida crucial, mas é necessário um debate mais amplo, envolvendo todos os setores da sociedade, para abordar adequadamente a crise habitacional.
Conclusão
A crise habitacional em São Vicente é um reflexo das complexas interações entre turismo, especulação imobiliária e necessidades locais. Enquanto os proprietários buscam maximizar seus lucros, muitos cidadãos lutam para encontrar um lar. A situação exige atenção urgente e ações concretas, a fim de garantir que todos tenham acesso a uma habitação digna e estável, em um futuro mais inclusivo e sustentável para a ilha.
O caminho a percorrer é desafiador, mas, com um diálogo aberto e políticas adequadas, é possível reverter esse cenário e proporcionar melhores condições de vida para as gerações atuais e futuras.
Leia a matéria na íntegra em: expressodasilhas.cv
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