No interior do Sul do país, em uma pequena roça, a vida se desenrola de forma simples e desafiadora para a família de Guerlinda e Carlos. O sustento da família vem do cultivo do tabaco, uma tarefa árdua que demanda cuidado e dedicação diários. Enfrentando as oscilações da natureza e a pressão das grandes empresas do ramo, eles se veem imersos em um cotidiano permeado por trabalho árduo e desafios constantes.
A narrativa gira em torno das experiências de cada membro da família: Alice, a filha mais velha, deseja participar do concurso de beleza Musa do Sol, o que causa conflitos com sua mãe Guerlinda, que espera sua ajuda nas plantações. Maria, a irmã do meio, é a única que frequenta a escola e vive em um mundo à parte, distante das preocupações do campo. Já Pedrinho, ainda um bebê, acompanha a rotina na roça, inserido em um ambiente marcado pela presença constante de agrotóxicos.
Quando chega a época da colheita, a família recebe a ajuda da avó Elvira, que tenta trazer algum equilíbrio para a casa tomada por silêncios e perdas. A autora do livro, Carrara, utiliza elementos cotidianos da casa para construir a narrativa, como o espelho lusitano na sala, a roupa de proteção dos filhos e a antiga caminhonete Rural da família. A árvore no quintal também desempenha um papel simbólico, observando silenciosamente os acontecimentos da família.
A obra retrata de maneira sensível e realista a vida desses personagens, suas lutas e anseios, em meio a um cenário rural muitas vezes negligenciado. O cultivo do tabaco, fonte de renda para tantas famílias, revela-se como um ciclo implacável de esforço e incertezas, em que a busca por sobrevivência se mistura com os desafios das relações familiares e a busca por identidade.
Ao jogar com diferentes formas narrativas, a autora nos convida a mergulhar nesse universo complexo e muitas vezes invisível, onde a resistência e a perseverança são a tônica do dia a dia. A família de Guerlinda e Carlos representa tantas outras que labutam nas roças do país, enfrentando obstáculos e adversidades com coragem e determinação.
Ao final, a história de “Musa do Sol” nos deixa com um olhar mais atento e sensível para essas realidades, mostrando a beleza e a dureza da vida no campo, e as relações familiares que se entrelaçam em meio ao trabalho e às incertezas. É um convite à reflexão sobre a importância de valorizar e compreender as histórias e os desafios de tantas pessoas que labutam nas roças, buscando sustento e dignidade em meio à adversidade.
Leia a matéria na integra em: Casa Vogue
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