Casa Magarola: A Arquitetura que Flui com o Terreno em Sant Cugat del Vallès
A Casa Magarola, projetada pelos Arquitetos Raúl Sánchez, está situada nas colinas de Sant Cugat del Vallès, a poucos quilômetros de Barcelona. Esta residência destaca-se por ser um refúgio inundado de luz, elegantemente posicionado na encosta de um terreno acidentado. Com uma inclinação de 45 graus, a casa se apresenta como um volume geométrico e compacto a partir da rua superior, quase opaco nas suas formas. Porém, à medida que se desce pela encosta, revela-se com um toque delicado ao solo, apoiando-se em um sistema estrutural mínimo que preserva a maioria das rochas de ardósia do terreno original.
Os arquitetos integraram uma série de “pernas” de concreto delgadas, que funcionam como telas estruturais posicionadas estrategicamente, ancorando a casa em suas fachadas e núcleo central. Essa estrutura eleva a residência acima do desnível, permitindo que ela se suspenda com o mínimo de pontos de contato com o solo. Os lajes de piso de concreto, de apenas 20 centímetros de espessura, conferem à casa um perfil leve, reduzindo assim a sua pegada física e ambiental. O acesso à residência se dá por uma escada em balanço que leva a um amplo terraço de entrada, que serve como extensão externa da cozinha, promovendo um fluxo harmonioso entre os espaços internos e externos.
A Relação entre Estrutura e Terreno
Quatro grandes painéis de vidro deslizantes criam uma conexão entre a área da cozinha e o terraço, enquanto um banco contínuo ao longo da fachada envidraçada voltada para o vale emoldura as vistas para as árvores circundantes e as montanhas distantes. A disposição espacial favorável à abertura permite que um núcleo central organize a circulação e os serviços, liberando as periferias para o movimento e a entrada de luz natural. Um vazio de dois andares também aporta um toque teatral ao projeto, conectando os dois níveis de maneira sutil.
Essa relação entre a estrutura da casa e o terreno representa a essência do projeto. Em vez de criar uma plataforma convencional ou fazer cortes no relevo, os arquitetos de Barcelona optaram por fazer a casa pairar, minimizando a perturbação do local. Apenas duas árvores foram removidas de um denso bosque de mais de quarenta, mantendo o desnível majoritariamente intocado, apesar da sua inclinação desafiadora.
Materiais Naturais que Ancoram a Casa no Contexto
O design da Casa Magarola propõe uma nova abordagem ao acolhimento dos moradores, movendo-se para além da necessidade de uma porta frontal tradicional. A arquitetura promove um gesto espacial de hospitalidade, com uma longa laje de concreto fundido e pedra ceppo di gré formando uma mesa de jantar comunitária no terraço, evocando a ideia de degraus e limiares como convites espaciais.
Uma paleta de cores e texturas contida permeia todo o ambiente, fundamentada em materiais locais. Desde os tons amarelos terrosos das fachadas externas até as varandas voltadas para o interior e aberturas sombreadas, a arquitetura equilibra a exposição e o fechamento. Na face voltada para o vale, a edificação se abre completamente para a paisagem, destacando um tom mais claro que contrasta suavemente com o restante do volume. Essa modulação cuidadosa da expressão da fachada, junto à aplicação da razão áurea em suas proporções, cria uma harmonia composicional sem cair em formalismos exagerados.
A sustentabilidade permeia todos os níveis da residência. Um sistema de piso radiante, aliado a aquecimento e resfriamento aerotérmicos, painéis fotovoltaicos, ventilação cruzada natural e isolamento térmico em todas as superfícies – incluindo a parte inferior da laje de chão – resultam em uma envoltória de alto desempenho. A água da chuva é captada e reaproveitada, enquanto o uso de materiais de origem local enfatiza a sensibilidade ambiental do projeto.
Com essas características, Casa Magarola não apenas se destaca pela estética contemporânea, mas também pela forma como se integra ao seu ambiente natural, servindo como um exemplo de harmonia entre arquitetura e natureza.
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