Kaat e Thomas, um casal de Bruges, decidiram dar uma nova vida a um estreito edifício no subúrbio de Anderlecht, em Bruxelas. Eles adquiriram a residência já com a intenção de transformar o espaço em um lar para sua família. Envoltos em um ambiente confuso de pequenas construções anexas e um jardim minúsculo, encontraram, no entanto, um ponto positivo: uma vista deslumbrante que permitia a passagem de luz natural durante todo o dia. O panorama se encerra em frente à antiga Escola Veterinária, um monumental complexo do século XIX.
A proposta de renovação da hé! architectuur visou reorganizar e conectar as áreas de convivência da casa. Os habitantes queriam que a luz natural invadisse os dois andares inferiores e desejavam um espaço criativo para Kaat, que trabalha com restauração de obras de arte.
O projeto previu a demolição de um antigo anexo, facilitando a reorganização dos espaços de forma vertical e ampliando a área externa. Além disso, a distribuição das zonas de dia e noite foi feita de maneira mais equilibrada ao longo dos cinco níveis da casa.
No bel étage (andar elevado), agora se encontram a cozinha e a sala de jantar. O segundo andar abriga a sala de estar. A remoção completa do cômodo que ficava acima da cozinha permitiu uma conexão diagonal entre os ambientes, garantindo que a luz da tarde penetrasse de forma mais profunda na casa.
O projeto foi elaborado na busca pelo que chamam de estética ‘bruta’ e ‘inacabada’. O escritório de arquitetura incorporou uma atmosfera singular deixando à mostra uma parte da alvenaria, tratada com carvão, que não apenas ajudou a respeitar o orçamento, mas também realçou a intervenção arquitetônica.
O casal ficou entusiasmado com a filosofia de reutilização proposta no projeto, contribuindo ativamente ao reunir e armazenar materiais como lajes de mármore das obras no estacionamento da Estação do Norte de Bruxelas. Esses materiais foram posteriormente utilizados para revestir as bancadas do banheiro e da cozinha.
As intervenções tiveram um caráter inovador, permitindo que a obra respire e se insira com propriedade no contexto do local. Para melhorar a circulação interna, vãos foram abertos e se preservaram as vigas de aço transversais que antes sustentavam os anexos do edifício, reintegrando-as como suporte para iluminação externa e treliças de plantas.
Um espaço externo, projetado com um piso de placa de aço perfurada feito a partir de madeiras reaproveitadas, proporciona uma conexão ainda maior entre os diversos níveis da casa. A escolha do design e dos materiais reflete uma relação harmoniosa entre o passado e o presente, permitindo que as histórias das estruturas anteriores ganhem nova vida dentro do novo contexto familiar.
Com essa ousada transformação, a casa de Kaat e Thomas se torna não apenas um lar, mas também um exemplo de como a arquitetura contemporânea pode dialogar com o patrimônio histórico, respeitando-o enquanto atiça a criatividade e inovação em meio a um oásis urbano.
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