Casarão da Lagoa Rodrigo de Freitas Frente à Especulação Imobiliária

Um dos últimos casarões históricos com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas está prestes a enfrentar o olhar voraz da especulação imobiliária. Em junho deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu cancelar o tombamento que protegia essa joia arquitetônica do início do século XX, localizada na Avenida Epitácio Pessoa, esquina com a Rua Joana Angélica. Essa decisão da 3ª Vara da Fazenda Pública da Capital sinaliza a liberação do imóvel para demolição.

A residência, que pertence à família Haddad — a mesma que formou patrimônio a partir da antiga Fábrica Bangu — ocupa um terreno de mais de mil metros quadrados. Com um valor estimado em R$ 130 milhões, o local já atrai o interesse de diversas construtoras, especialmente por estar situado em uma das áreas mais valorizadas de Ipanema, ao lado do extinto restaurante Castelo da Lagoa, que também não resistiu ao avanço do mercado imobiliário.

O tombamento, estabelecido em 2002, foi justificado com a afirmação de que a casa “representa um marco referencial na paisagem da cidade e possui um grande valor afetivo para o carioca, considerando a necessidade de se adotarem medidas complementares de proteção da área de entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas”.

O terreno tem mais de mil metros quadrados e está localizado em uma das áreas mais valiosas do bairro.

O Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão municipal encarregado do tombamento, revelou que só tomou conhecimento do cancelamento após consulta. A notificação formal da decisão ainda aguarda a avaliação da procuradoria. De acordo com dados do DataRio, a Lagoa abriga cerca de 40 imóveis tombados; dos quais, muitos já foram demolidos ou estão ameaçados, impulsionados pela construção de estúdios e pelas novas legislações que incrementaram o gabarito das edificações, como os conhecidos “puxadinhos”.

Em julho, os proprietários do casarão solicitaram licença para a demolição da edificação. No mês seguinte, a Prefeitura pediu ajustes e documentos complementares, como parecer do IRPH, laudo técnico SubVisa, ART/RRT do PREO e comprovantes de titularidade e situação fiscal. A autorização para a demolição será concedida apenas após o cumprimento integral dessas exigências.

Rafael Bokor, ativista pela preservação do patrimônio, expressou sua preocupação: “Se nada for feito, a Lagoa em poucos anos terá o mesmo destino das orlas do Leblon e Copacabana, que não possuem mais casas. Lamentável esse tal de progresso arquitetônico.”