Arte, Ativismo e a Cidade: Iluminando a Mudança Social
A fusão criativa entre arte e ativismo nos espaços urbanos tem colocado o coletivo britânico "Led by Donkeys" em destaque, acumulando milhões de visualizações por suas intervenções nas redes sociais. As ocupações visuais críticas – que vão desde mensagens em outdoors durante o dia a projeções em larga escala à noite – levantam uma questão intrigante: qual meio possui maior poder persuasivo?
O livro Led by Donkeys: Adventures in Art, Activism and Accountability oferece um olhar aprofundado sobre a abordagem conceitual do coletivo, traçando sua rápida evolução ao longo de seis anos. O que começou como uma resposta londrina ao Brexit se expandiu para uma crítica global à hipocrisia política, abordando questões em várias partes do mundo, incluindo Europa, Oriente Médio e América. Para Peter Weibel, ex-diretor do ZKM Center for Art and Media, na Alemanha, a combinação inovadora de ativismo e arte – ou "Artivismo" – representa a primeira nova forma de arte do século 21.
A Rebelião Engraçada Contra o Brexit
O "Led by Donkeys" foi fundado em resposta à frustração em torno do Brexit, iniciado por quatro homens que haviam votado para permanecer na União Europeia. Sua jornada começou com intervenções estilo guerrilha em outdoors, expondo contradições políticas, e evoluiu para projeções de alto impacto em marcos icônicos do Reino Unido. O nome "Led by Donkeys" faz referência histórica à Primeira Guerra Mundial, quando os comandantes alemães descreviam os soldados britânicos como "leões liderados por burros", uma crítica à liderança incompetente. O coletivo viu um paralelo moderno entre os líderes políticos britânicos e sua gestão imprudente do Brexit.
A primeira intervenção deles foi uma operação noturna em Dover, onde colaram ilegalmente um outdoor com um tweet anterior do ex-primeiro-ministro David Cameron sobre a liderança da Grã-Bretanha. Desconhecendo a instalação de cartazes em larga escala, eles se disfarçaram de profissionais usando coletes de alta visibilidade e carregando uma escada. Embora o cartaz tenha sido rapidamente removido, uma foto da intervenção viralizou nas redes sociais, revelando o poder de contrapor a retórica política com a dura realidade.
O Poder da Luz na Protesta
Expandindo seus meios além dos outdoors, o "Led by Donkeys" explorou o potencial da luz. Eles começaram com duas vans publicitárias digitais, exibindo tweets e declarações de políticos, especialmente direcionadas a Nigel Farage. Um ponto de virada ocorreu quando um operador de projeção ofereceu um projetor poderoso capaz de transmitir imagens em vastas superfícies com impressionante clareza. Essa mudança tecnológica inauguração um novo capítulo em seu vocabulário visual, permitindo intervenções rápidas e em larga escala que não exigiam alterações permanentes nos espaços urbanos.
Uma das projeções mais impactantes foi realizada em abril de 2019, quando projetaram um "SOS" nas Falésias Brancas de Dover em código Morse marítimo, simbolizando a luta da Grã-Bretanha para permanecer na UE. A projeção, com 3.000 metros quadrados, foi visível para passageiros de balsas cruzando o Canal da Mancha e até mesmo para viajantes chegando ao aeroporto de Gatwick.
Amplificando a Sátira Política
Com a visita estatal de Donald Trump a Londres em junho de 2019, o "Led by Donkeys" aproveitou a oportunidade para ligar o presidente americano a figuras proeminentes do Brexit, como Nigel Farage e Boris Johnson. Usando o Google Street View, eles identificaram locais de alto reconhecimento, sendo a Torre Elizabeth (Big Ben) um dos melhores para uma projeção de 200 metros quadrados de um vídeo de 2015 em que Johnson chamou Trump de "inadequado para a presidência".
A transição de outdoors para projeções ofereceu várias vantagens: velocidade, escala e surpresa. O grupo utiliza a economia de design para trazer mensagens impressionantes aos espaços públicos com recursos mínimos.
Porém, a crescente manipulação digital trouxe novos desafios. Em uma colaboração de 2025 com o grupo ativista alemão Zentrum für Politische Schönheit, o coletivo projetou imagens controversas na Gigafactory da Tesla, incluindo uma imagem de Elon Musk supostamente fazendo um saudação nazista. A divulgação dessa imagem gerou debates sobre a linha tênue entre arte intervencionista e desinformação, sublinhando a importância de instalações no mundo real.
A Força da Sátira e da Velocidade
O impacto do "Led by Donkeys" reside em sua habilidade de responder rapidamente a desenvolvimentos políticos, destilando problemas complexos em visuais simples e poderosos. Sua sagacidade afiada e consciência histórica expõem a discrepância entre promessas políticas e a realidade, tornando suas intervenções simultaneamente oportunas e atemporais.
Por meio de sua arte provocativa, os "Led by Donkeys" continuam a redefinir os limites da arte de protesto no século 21, desafiando o público a reinterpretar seu entorno urbano sob a lente da ativismo.
Leia a matéria na integra em: Archdaily
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