A Revolução dos Vinhos Laranjas: Uma Nova Tendência nas Adegas Cariocas

“Estou aqui para confundir e não para explicar”. Essas palavras bem poderiam ser a síntese da experiência que tive em um evento recente, onde o vinho laranja roubou a cena. No cenário sofisticado do lançamento de um prestigiado guia de vinhos, em uma tarde ensolarada com vista para a Lagoa da Barra, fui apresentado a um exemplar chileno “naranjo” em um estande de uma renomada importadora. A atendente, jovem e entusiasmada, me esclareceu: “Esse vinho é diferente, ele é feito com cascas de laranja”. Nesse momento, percebi que este insólito diálogo não era mais uma piada de comédia, mas uma janela para um mundo intrigante e saboroso.

A história dos vinhos laranjas começou a ganhar corpo na última década, especialmente na Europa, onde técnicas de vinificação milenares estavam sendo redescobertas e adaptadas. No Rio de Janeiro, a popularidade desses vinhos começou a despontar meses antes do surgimento de bares e restaurantes que dedicam seções inteiras a essas novas bebidas. E, surpreendentemente, a grande questão que persiste é: começamos a amar ou a confundir?

É com essa provocação que abordamos o verão carioca de 2025, um momento que, sem dúvida, é dos vinhos laranjas — que, vale ressaltar, são produzidos apenas com uvas.

O que é o Vinho Laranja?

O vinho laranja é elaborado a partir de uvas brancas que fermentam junto com as cascas, seguindo um método similar ao dos vinhos tintos. Essa maceração pode variar de dias a meses e o resultado são vinhos encorpados, intensos e complexos, que oferecem uma gama diversificada de aromas e cores. O que torna essa experiência ainda mais rica é a presença de taninos – conhecidos por sua função na estrutura e conservação dos tintos, mas que também habitam os vinhos laranjas, proporcionando uma conversa gustativa singular.

Imagine uma explosão de sabores: frutas cítricas, mel, gengibre, ervas e especiarias dançando no paladar. Há opções que são mais frutadas e suaves, enquanto outras ousam por um toque de oxidação, evocando a atmosfera de um clássico, talvez, como “Take a Walk on the Wild Side”, de Lou Reed.

Embora chamemos de vinho laranja, isso não significa que todos eles tenham essa cor vibrante e chamativa. A cor de um vinho laranja pode variar de amarelo intenso a âmbar, e não é uma definição rígida. O livro “Amber Revolution”, escrito por Simon J. Woolf, um dos maiores especialistas nesse universo, é uma leitura essencial para entender a diversidade e a complexidade desses vinhos.

A Origem dessa Tendência

A recente popularidade dos vinhos laranjas remonta aos anos 1990, na região de Friul-Veneza Júlia, na Itália, onde o viticultor Josko Gravner decidiu reviver técnicas tradicionais de vinificação. Inspirado pelos processos georgianos de 5.000 anos, que utilizam ânforas de terracota enterradas para fermentar o vinho, ele plantou ribolla gialla e começou a produzir vinhos fascinantes, que hoje são considerados verdadeiros tesouros.

A jornada de Gravner impulsionou um renascimento do método de produção de vinhos em ânforas, que se espalhou por mais de 40 países, abrindo caminho para novas práticas e estilos de vinificação.

Harmonização: O Vinho Laranja na Mesa

Os vinhos laranjas se destacam por sua capacidade de harmonizar com uma variedade impressionante de pratos. Seu frescor e complexidade permitem combinações surpreendentes, desde a gastronomia indiana e tailandesa, ricas em especiarias, até frutos do mar, queijos e charcutaria. Eles também podem acompanhar sobremesas menos doces à base de frutas, completando uma refeição de modo intrigante.

Em Botafogo, o bar Tão Longe, Tão Perto traz a experiência de comparar um vinho branco e um laranja, ambos feitos com uva lorena da Dom Dyonisius por R$ 25 a taça, harmonizando perfeitamente com ostras defumadas do projeto A.mar. Outro local que merece destaque é o Libô, onde o Soler Tres Naranjo, um argentino de Mendoza feito de moscatel amarillo, pode ser apreciado em taça, harmonizando com escabeche de peixe branco ou com uma seleção de queijos brasileiros.

Para aqueles que desejam explorar além das fronteiras, o Virtuoso, em Ipanema, oferece a tortilla de porco, acompanhada pelo Lazy Winemaker Orange, um sauvignon blanc chileno fermentado com as cascas por 60 dias, prometendo uma deliciosa experiência gastronômica.

Conclusão: Uma Nova Jornada de Sabores

O vinho laranja é uma proposta que instiga e surpreende. Se você ficou intrigado com a ideia deste vinho, talvez seja hora de se aventurar em uma combinação refrescante de suco de laranja e espumante em uma clássica mimosas, onde os sabores se encontram de maneira leve e descontraída.

Embarque nessa nova tendência e descubra as nuances encantadoras que os vinhos laranjas têm a oferecer. Eles são a prova de que, no mundo dos vinhos, a única certeza é a possibilidade de se deixar levar pelo inesperado.

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